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o desarranjo poético

quarta-feira, 23 de junho de 2010

violinistar

Andava calado,
depois do serviço, os poucos metros até meu apartamento. P
ara meu júbilo, ao subir a ruela magra, vi ao longe um rapaz. Contudo este não era só, tinha consigo um instrumento de tocar, que por sinal tinha um aspecto no mínimo deplorável. Os rasgos por entre a madeira envelhecida pelo tempo mais pareciam fendas em rochas, sem qualquer alinhamento ou semelhança, pura obra do descuido e desgaste. A cor era castanho, porém as manchas eram evidentes. Cordas novas aquele corpo jamais vira. Sentei-me e tratei de escutar. Tocava a quarta de Beethoven. Permaneci calado.
Eu notava seus traços: eram desalinhados, definitivamente minto se disser de uma beleza ímpar, pois beleza alí não havia. Disforme, entretanto de olhar doce, bovino, como diria o escritor. Seus olhos eram negros (bem como a pele) e não os tiravam nem por um segundo do braço do violino, até o momento que por uma força maior, quem sabe um impulso, ou até obrigação moral puxei alguns trocados do bolso e lhe ofereci, calado. Foi então que o sujeito notou minha presença. Parou delicademente de tocar a música, recusou o dinheiro com a cabeça, e gentilmente me agradeceu com um olhar e um sorriso de dentes amarelos e pequenos, mas de extrema honestidade.

eu que era calado, cantarolei o dia todo.

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