ape

o desarranjo poético

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Flores na calçada.

Já passava de meia noite. Era possível ouvir através das paredes finas passos apressados, de um homem quase que novo, e quase que velho, de média estatura, cara quase que normal. As janelas observavam, indiscretas, como de costume, aqueles dois grandes olhos medrosos e aflitos. Coitados eram os degraus que sofriam com a angústia do sujeito. Nas costas uma luz azulada iluminava-o, dando um ar doce, macabro, e interessante a toda aquela visao. O gestos eram rápidos, despreocupados com possíveis erros, afinal o que vinha a seguir fora vaidosamente calculado, embora este nao fosse o mais racional dos homens.

Gotas de chuva molharam sua testa, seus ombros, o corpo todo. Criavam caminhos por entre as rugas de sua cara, as malditas. Passaram pela queda de seu nariz, foram até o bico, desceram escorregando pela boca, molhando o limo dos dentes, do sorriso pobre. As maos que tremiam já esqueciam de ser indecisas, tomavam um rumo sem volta.. pois fariam o que nao poderia ser feito. Agora seu mundo era silêncio, nao podia escutar nem voz, muito menos razao. Pobre rapaz, que criatura triste.

Sentia tesao em empunhar uma arma. Nao era a primeira vez, mas cada uma era única. Um prazer tao esplendoroso. Sentia poder. Podia matar.

-Tu queres dinheiro? Disse a moça. -Se for dinheiro eu te dou! Por favor nao faça nada!

AGORA DIZ! Diz vagabundo! Que tu nao querias dinheiro porcaria nenhuma! Que tu querias cheiro de pólvora, de sangue. Tu sabes que falta de dinheiro nao é teu mal. Agora diz pra ela.
Tens conhecimento que homens sao todos iguais numa cela.



Levou as duas maos até cabeça de cabelos desgranhados, e chorou.
Pois sabia que agora era apenas mais um que matou.


Um cara quase que normal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário