ape

o desarranjo poético

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Tommy.

        Quando eu era pequeno, depois das onze horas, quando todos já tinham as cabeças firmes no travesseiro..  eu acordava.  Meus dedos miúdos erguiam devagar o cobertor felpudo e quente e meus dois pés de criança pisavam o chão de madeira, descalços, como não deveria ser.  Leve era como eu ia até a janela.  Abria uma fresta de pouco mais que um palmo e ouvia os sons do marasmo da noite na Travessa dos Flamboyants.  Minha cabeça de criança não tinha sono, só ansiedade.  Impaciente eu chamava-o baixinho e em poucos minutos estava lá meu amigo.   De fato não havia nenhuma grande demonstração de afeto, simplesmente ele vinha, magrinho, dormir comigo.  Meus pés de criança caminhavam devagar em direção a cama e minhas mãos de dedos miúdos seguravam Tommy, que na escuridão de meu quarto e minha noite, sumia.  
             Todo dia, nosso ritual secreto.  Todo dia eu te esperava.  Mas eu cresci Tommy... e sabe como é, não podemos ser assim quando grandes, podem nos julgar.. e é assim que a gente seca.

                E agora, magrinho, quem me espera é você. 



Não vai esquecer de deixar a janela aberta.

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